ANTOLOGIA
“A noite resplandecia como o dia, noite de encanto para homens e ani-
mais. Vem chegando gente. A renovação do mistério dá a todos motivos
novos para rejubilarem. Erguem-se vozes na floresta e as rochas alcantila-
das repercutem os hinos festivos. Os irmãos entoam os louvores do Se-
nhor, e entre cânticos de júbilo fremente, decorre toda a noite. O santo
de Deus está de pé diante do presépio, desfeito em suspiros, trespassado
de piedade, submerso em gozo inefável. Por fim, é celebrado o rito solene
da Eucaristia sobre a manjedoura, e o sacerdote que celebra sente uma
consolação jamais experimentada.
Francisco reveste-se com os paramentos diaconais, pois era diácono, e,
com voz sonora e bem timbrada, convida os presentes às mais altas
alegrias. Pregando ao povo, tem palavras doces como o mel para evocar
o nascimento do Rei pobre e a pequena cidade de Belém.
Por vezes, ao mencionar a Jesus Cristo, abrasado de amor, chama-lhe o
“Menino de Belém”, e, ao dizer “Belém”, era como se imitasse o balir
de uma ovelha e deixasse extravasar da boca toda a maviosidade da voz
e toda a ternura do coração. Quando lhe chamava “Menino de Belém”
ou “Jesus”, passava a língua pelos lábios, como para saborear e reter
a doçura de tão abençoados nomes.
Entre as graças prodigalizada pelos Senhor nesse lugar, conta-se a visão
admirável com que foi favorecido certo homem de grande virtude. Pare-
ceu-lhe ver, reclinado no presépio, um menino sem vida. Mas, tanto que
dele se abeirou o Santo, logo despertou, suavemente arrancado ao sono
profundo. De resto, não deixava de ter esta visão um sentido real, já que,
pelos méritos do Santo, o Menino Jesus ressuscitou no coração de muitos
que o tinham esquecido e a sua imagem ficou indelevelmente impressa
nas suas memórias”.
In: Tomás de Celano, Vida Primeira, Ns. 85 e 86
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